Por João Victor Cardoso
A partida entre Lokomotiv Moscou x Juventus ocorrida no estádio Lokomotiv de Moscou foi mais um grande teste para os conceitos de Maurizio Sarri. O treinador da equipe russa, Yuri Syomin, percebeu alguns pilares do jogo de Sarri e prontamente arquitetou um esquema de modo que anulasse os principais jogadores do time italiano. Porém, a partir do minuto 70, com a entrada de Douglas Costa, a Vecchia Signora finalmente conseguiu ter um controle maior da partida. Sarri manteve o seu esquema inicial e revolucionou no posicionamento do brasileiro, colocando Douglas atrás dos atacantes e dando total liberdade para o brasileiro flutuar pelo ataque. Com essa movimentação, Douglas Costa promoveu vários desequilíbrios através de dribles e já nos acréscimos conseguiu fazer uma bela jogada partindo da ponta-direita e deu a vitória aos bianconeri. Mas, agora, vamos verdadeiramente as estratégias das duas equipes na noite da última quarta-feira (6/11) em Moscou:
Lokomotiv
4-4-2 do Lokomotiv Moscou. Edição: João Victor Cardoso/ShareMyTactics
Estruturado em um 4-4-2 bem característico, a equipe do Lokomotiv apostou na compactação de sua defesa e na facilidade que seus meias e atacantes tem em acelerar nos contra-ataques. Yuri Syomin articulou sua organização defensiva de maneira zonal, com pouquíssimos espaços entrelinhas, e cedendo a Juventus somente os lados para atacar, sendo que ali existiam gatilhos de pressão, de modo que toda vez que a “Juve” caía para algum dos lados, os russos sabiam o momento exato para pressionar de maneira mais intensa e recuperar a bola. Krychowiak e Barinov tiveram bastante destaque nesse sentido, sendo os grandes coordenadores do meio-campo dos “Ferroviários”. Além disso, como já supracitado, Syomin percebeu que Pjanić era o dono do meio adversário e fez com que Miranchuk fizesse uma marcação quase que individual no bósnio, forçando a Juventus a sair jogando com seus laterais e posteriormente caindo nas já ditas armadilhas de pressão do Lokomotiv.
Frame do 4-4-2 do Lokomotiv em organização defensiva. Imagem: Instat Edição: Ícaro Caldas
Ao recuperar a posse (transição ofensiva), a ordem era para verticalizar ao máximo, na tentativa de ganhar terreno com superioridade numérica e já ativar Miranchuk ou Éder em condições de finalizar. Se não fosse possível o contragolpe veloz, o time tinha em Miranchuk e João Mário seus principais argumentos ofensivos, com o português sendo um bom articulador de jogadas a partir da ponta-esquerda e o russo como um segundo-atacante com muita liberdade para circular pelo ataque.
Obviamente, com o passar do tempo o desgaste físico foi sentido, e na segunda etapa, já muito desgastados pela ótima marcação que haviam feito, os defensores cederam a uma investida de Douglas Costa, sacramentando a vitória italiana.
Juventus
4-4-2 em losango da Juventus. Imagem: João Victor Cardoso/ShareMyTactics
Sarri não abriu mão de seu 4-4-2 em losango, apostando na posse e na paciência para vencer as linhas bem estruturadas do adversário. Tendo Ramsey de meia-atacante, não foi possível ver muita desenvoltura nos ataques Juventinos, com o galês muito preso na entrelinha adversária e dependendo muito de lampejos de Cristiano Ronaldo ou de algum dos meias chegando na área rival. Ademais, a dificuldade para sair jogando frente ao bloco baixo e a vigiliância intensa de seu primeiro-homem (Pjanić), condicionaram o jogo da Juventus aos lados, principalmente o esquerdo, gerando erros na saída de bola que poderiam ter sido mais aproveitados por Miranchuk e cia. Entretanto, havia um diferencial técnico que os russos não esperavam que fosse utilizado: Douglas Costa com liberdade total. Ao entrar na vaga de Khedira e ocupar o espaço de Ramsey, que havia saído anteriormente para entrada de Bentancur, o brasileiro mostrou que não é um simples extrema que só funciona preso a linha lateral e corta para o meio para arrematar. Pelo contrário, Douglas flutuou por todo o campo e desbaratinou os mecanismos defensivos da equipe de Yuri Syomin que vinham dando tão certo até então. Com dribles mágicos, conduções velozes e um carinho com a bola que só o brasileiro entende, Douglas desequilibrou a partida e levou um verdadeiro samba até Moscou, sendo decisivo para a vitória italiana.
Números de Douglas Costa x Lokomotiv Moscou (Sofascore). Em apenas 20 minutos o brasileiro conseguiu mudar a partida.
Agora, já classificado para as oitavas de final, Sarri pode testar novas alternativas para não sofrer em demasia contra esse tipo de defesa e, principalmente, não depender tanto de seu 1° volante, como também foi no Chelsea.