Por Mathaus Pauxis
(Foto: Rodrigo Pinheiro | @rodrigopinhro)
Quando passamos pela adolescência, achamos que sabemos de tudo e ninguém sabe mais do que nós. Quando crescemos, percebemos o quanto não sabíamos de nada e o quanto os outros também sabiam das coisas. Isso pode acontecer quando começamos a estudar algum assunto e os mais empolgados praticamente viram adolescentes ao falar disso. No futebol não é diferente.
Alguns que começam a ler sobre o esporte, a entender palavras como “pivote”, acabam se empolgando com o assunto e acreditam que o torcedor “médio” precisa ser totalmente ensinado. Não é assim, o torcedor também entende de futebol.
Quando o torcedor pede mais “raça” para o time, pede mais “sangue”, ele não está falando por falar. Indiretamente também está pedindo mais intensidade nos duelos. Está pedindo que seus jogadores cheguem com mais firmeza, o que pode garantir o atraso ou impedimento do ataque adversário ou até mesmo uma retomada de posse. Talvez apenas ele não esteja usando a palavra certa (será que ela existe?).
Quando o torcedor grita para o time ir pra cima, sem a bola, apertar o adversário e não deixar espaço, ele quer uma marcação-pressão. Quer que a equipe use o bloco-alto e impeça o ataque do rival no campo de defesa dele. O atual campeão europeu ganhou jogos dessa forma.
Quando o torcedor reclama do toque para o lado, que “atrasa” o ataque, ele pode não entender que isso serve para abrir espaço e descompactar o adversário, mas ele entende que quer um jogo mais vertical. Um jogo que quebre a linha de outra forma, mais rápida. No futebol, há várias formas para isso.
Quando o torcedor quer um “camisa 10”, ele quer um jogador com o passe refinado, que quebre a linha do adversário e tire bons passes de ruptura da cartola.
Quando quer um “camisa 9”, ele quer um centroavante que finalize de dentro da área, que puxe a marcação dos zagueiros, que abra e ataque o espaço na área adversária.
Quando o torcedor quer um “cão de guarda”, ele quer um volante que impeça a progressão do ataque adversário. Que roube a bola e dê sequência ao ataque de seu time. Até mesmo que faça a falta, protegendo a zaga.
E quando quer um “xerifão”, ele quer um zagueiro que ganhe os duelos aéreos. Que seja forte no um contra um defensivo e que controle o espaço em sua área. Talvez até botando “medo” no adversário.
Isso tudo tem muito a ver como a forma que foi feito o futebol brasileiro ao longo dos mais de 100 anos. Um futebol que valoriza a posse, a pressão, o ataque, os gols. Um futebol que é exigido de times de A a D.
Que eles joguem pensando sempre na vitória e que o melhor caminho para isso é ter um meia habilidoso, pois ali é o lugar dos craques, e ter um centroavante que – para muitos – é o mais importante. Quem pode dizer que isso é um pensamento completamente errado?
Quando o torcedor quer, ele não está totalmente errado. Claro que, assim como os analistas e especialistas de futebol, ele não sabe de tudo. E às vezes, nem sabe que sabe. Mas isso não significa que ele não saiba de nada. Há muito para ser aprendido. Ele pode querer ou não aprender, o importante é que esse aprendizado seja de forma mútua. Afinal, aprendemos juntos.