Por Henrique Mathias
O futebol feminino tem suas particularidades físicas, táticas, técnicas e todo um universo próprio, com toda a sua construção cultural.
Entretanto devido a uma série de fatores, que vão desde os nomes que trabalham como treinadores neste universo até o espaço maior que temos no gramado, muitos conceitos táticos do futebol masculino praticado nos anos 90, reaparecem nos jogos femininos do velho continente.
Foi o que aconteceu no duelo entre Barcelona e LSK valido pela rodada de ida das quartas de finais da Liga dos Campões. Jogando em casa, no Mini Stadi, o time treinado por Fran Sánchez, entrou em campo no 3-4-3 e com enorme dinâmica ofensiva venceu por 3×0 e dominou completamente as ações.
O treinador Fran Sánchez tem trabalhado bem os dois esquemas mais famosos da escola holandesa, trabalhando o 4-3-3 no Campeonato Espanhol e o 3-4-3 na Liga dos Campeões.
Nesse texto vamos abordar alguns pontos do momento ofensivo do time do Barcelona quando atua no 3-4-3.
O 3-4-3 do Barcelona privilegia o movimento constante entre as linhas, trabalhando as triangulações e os encaixes por setor.
Marta Torrejón e MapiLeon trabalham como defensoras na primeira linha, mas a todo momento realizam movimentos para as laterais visando a superioridade numérica e o maior espaço para um passe vertical, como podemos ver na imagem abaixo.
Imagens do canal oficial do Barcelona no Youtube.
Melanie Serrano aparece espetada no lado esquerdo, com VickyLosada oferecendo ajuda mais avançada e pelo mesmo setor. Nesse momento KheiraHamraoui aparece para receber a bola da zagueira que atua centralizada, sendo responsável por ditar o ritmo ofensivo de sua equipe.
A volante da França é o pilar ofensivo dessa equipe, carimbando cada jogada, aproximando da primeira linha e avançando como a bola em seus domínios para encontrar suas três companheiras e completar o quarteto de meio-campo.
Imagens do canal oficial do Barcelona no Youtube.
Nessa imagem podemos enxergar com clareza o desenho básico do Barcelona nesta partida. Mariona Caldentey se posiciona aberta pela direita, LiekeMartens pela esquerda e Alexia Putellas aparecendo entre linhas para arrastar sua defensora.
O trio ofensivo é bem complementar, com LiekeMartens sendo a peça de desequilíbrio, voltando para receber na faixa central e acelerar com a bola em controle. Com suas constantes progressões, Martens acaba gerando medo nas rivais e esse medo acaba por criar um espaço pela esquerda. Em sequência o Barcelona fica mais com a bola, roda o jogo e espera a chance de ativar Martens com um passe longo, foi desta maneira que a craque da seleção da Holanda criou o lance do segundo gol, num cruzamento que Duggan completou para a rede.
Imagens do canal oficial do Barcelona no Youtube
Duggan e Caldentey trabalham de maneira semelhante em termos de movimentos de ruptura, com a primeira agredindo a zona central e a segunda procurando mais fazer o facão.
O 3×0 foi criado com tranquilidade, a movimentação constante do Barcelona confundia a tentativa de encaixes individuais do LSK, que trabalhou quase todo o jogo em 4-5-1 para defender. Com muitas peças subindo para pressionar a saída de bola, acabavam por permitir muito espaço em campo aberto para Martens.